terça-feira, 23 de junho de 2009

O Jornalista como agente social

O jornalismo é uma atividade que contribui para a construção dos rumos da sociedade: ele tem a função de fiscalizar o cumprimento dos poderes públicos e privados e, ainda, tem a força para influenciar nas decisões políticas e econômicas, pessoais e coletivas. É por esse motivo que, muitas vezes, a imprensa e a mídia são denominadas o Quarto Poder. Dessa maneira, pensar, formular e colocar em prática uma ética jornalística é um ponto crucial para quem exerce a profissão.

A ética é tida como “um conjunto de hábitos e ações que visam o bem comum de uma determinada comunidade”. Na Grécia Antiga, a ética possuía a função de racionalizar as práticas humanas com a finalidade de alcançar a felicidade plena e coletiva (eudaimonia).

Comumente, nos deparamos com pessoas afirmando que, em prol do bem comum, a ética jornalística deve ser baseada na imparcialidade e na objetividade. A partir dessa ótica, o jornalista deveria se despir de seus preconceitos para permitir que o leitor seja livre para interpretar a informação como bem entender. Gonzalo Peltzer, no livro Periodismo con Pasión, questiona a possibilidade dessas premissas serem materialmente realizáveis: “Devem as notícias refletir a realidade como um espelho? Não, mas não porque não devam, é que não podem." A afirmação de Peltzer, pode ser explicada a partir de ensinamentos da lingüística. De acordo eles, toda escolha de linguagem, de pontuação ou de sintática implica na utilização da subjetividade, intrínseca ao ser humano. Os preconceitos são, por causa disso, revelados nos meandros de qualquer texto, por mais objetivo e imparcial que ele aparente ser. Dessa maneira, é possível dizer, que a imparcialidade e a objetividade são inalcançáveis. Nesse contexto, surge a necessidade de repensar tais princípios do fazer jornalístico.

Formalmente, a ética emerge no jornalismo por meio de um Código de Ética. Este, em vigor desde 1987, deveria ser, como diria Kant, um imperativo categórico que nortearia toda a atividade jornalística. Porém, além do Código não ser colocado em prática pela maior parte dos meios de comunicação, está fundamentado em premissas discutíveis.

No artigo terceiro do Código insere-se o seguinte imperativo: “A informação divulgada pelos meios de comunicação pública se pautará pela real ocorrência dos fatos e terá por finalidade o interesse social e coletivo.” Contrariando o que ordena o artigo, freqüentemente vemos casos de espetacularização da notícia, casos em que nem todos os sujeitos de uma história foram ouvidos, casos em que a ideologia de uma empresa é colocada acima da necessidade de divulgar a veracidade de um fato de interesse social e coletivo. Perseu Abramo, sobre esse mesmo artigo, critica: “Como imaginar, por exemplo, que o jornalismo possa ser concebido como um serviço social e público, se praticamente toda a atividade de comunicação, no Brasil, é monopolizada pelas empresas privadas?” A questão de Abramo é contundente, a comunicação [e o jornalista] está, de fato, acorrentada a meia dúzia de empresas privadas que controlam os grandes meios de comunicação.

No sistema em que vivemos, no qual tudo é condicionado à lógica do lucro, o jornalista é, nessas empresas, cobrado por audiência e assinaturas. Quem mais perde com isso é a ética e a qualidade. Por lucro, e não pelo bem comum, espetaculariza-se a notícia. Pelo mesmo motivo, os meios de comunicação competem entre si para publicar o fato em primeira mão. A qualidade e a ética são subjugadas pela rapidez, ou pelo nomeado just in time.

Como estudante, vejo que o que hoje é preciso questionar é se, nesse contexto, um jornalismo ético que busca racionalmente o bem comum da sociedade é possível. Se for, é necessário pensar como isso se realizaria e de que maneira o Código de Ética deveria refletir isso. Do contrário, veremos a continuação da existência de um jornalismo fadado a reproduzir padrões sociais muito distantes da eudaimonia.

Fernanda Ortega

Nenhum comentário:

Postar um comentário