quarta-feira, 24 de junho de 2009

O jornalismo fora da ética

O jornalismo fora da ética

Muitos dos artigos do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros podem ser contestáveis se analisarmos o contéudo dos jornais e revistas que circulam; principalmente os da Grande Mídia. A começar pelo Artigo número 7, III: "O jornalista não pode impedir a manifestação de opiniões divergentes ou o livre debate de idéias". Ora, não é raro, ao abrir um jornal ou ver TV, se deparar com notícias tendenciosas que visam somente beneficiar uma das partes, e para isso, manipula a verdade dos fatos. Para ilustrar isso, é só ver o que o site da revista Veja (www.veja.com) divulgou nos 25 anos do MST. Só pelo título da matéria, pode-se notar a maneira tendenciosa que Veja propõe o Movimento ao seu público: "Os 25 anos de MST: invasões, badernas e desafios à lei". Esse, é um dos milhares de exemplos que vemos diariamente na mídia, tentando desmoralizar algum tipo de opinião ou de movimento contrário ao seu.
Outro artigo diz respeito à responsabilidade profissional do jornalista, artigo nº 11: "O jornalista não deve divulgar informações visando o interesse pessoal ou buscando vantagens econômicas". Mas, diferente do que o artigo sugere, o jornalista, e consequentemente a mídia, visa vantagens econômicas, tratando assim a notícia como uma mercadoria. A informação em sua essência não é uma mercadoria, mas ela passa a ser quando o veículo de comunicação denota-lhe valor seja através do destaque, da frequência, do grau de importância de seus protagonistas, do enfoque etc. A maneira sensacionalista que algumas notícias são tratadas mostra que o interesse é impressionar o público, para assim, vender.
Portanto, é mais do que necessário que os futuros jornalistas saibam dar valor à importante tarefa de ser jornalista, e passem à sociedade a notícia como ela é, sem intenções e interesses. Como estamos lidando com uma forma de atribuição que o produto final remonta possibilidades de leitura do mundo, devemos ter muita responsabilidade tanto no fazer, quanto no observar o que foi feito.

Fernanda Miranda

terça-feira, 23 de junho de 2009

A ética nas coberturas jornalísticas

O artigo 4º do Capitulo II do código de ética ( “o compromisso fundamental do jornalista é com a veracidade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação”) evidencia a carência de ética nas coberturas jornalísticas. Tomemos como exemplo o acidente do Airbus A 330 da Air France, que caiu no oceano Atlântico com 228 pessoas a bordo no dia 31 de maio.
A mídia se precipitou diversas vezes no caso, ao afirmar, por exemplo, que os destroços do Airbus haviam sido encontrados no dia 2 de junho, sem haver a identificação do avião. A pressa para divulgar a informação leva a inúmeros erros éticos. A não apuração dos dados brutos, no caso do Airbus, acabou por descartar o sentimento dos familiares das vítimas, que incapacitados frente à falta de notícias, eram iludidos com falsas informações. Foram levados a crer, primeiramente, que o avião havia simplesmente desaparecido. Depois, quando as vítimas foram finalmente descobertas, suas vidas foram expostas sem medir a consideração pela dor e sofrimento dos familiares.
A mídia, além de faltar com a ética, faz da desgraça um ímã para leitores. Aparecem especialistas de todas as áreas: "terrorismo não foi descartado", "é possível a desintegração do avião por um raio"; e a verdadeira causa ainda não apurada. As histórias emocionantes daqueles que deveriam ter embarcado no vôo mas desistiram no último minuto vêm à tona nos noticiários, a imprensa cai em cima, entrevista, tira fotos, conta a história da vida dos “iluminados”. Frente à espetacularização da imagem, nos questionamos se o jornalista vem agindo pelo seu compromisso para com a veracidade da informação ou pelo Ibope.

O lado publicável da história


"Me empresta uma parte do jornal, papai?"
"Aqui"
"Obrigada"
"Frase do dia: Quanto mais conheço os homens, mais querido é meu cachorro - Diógenes"
"Cachorro!..."
"Que tipo de jornalismo é esse? Falta a opinião do cachorro!"
Segundo o cineasta francês Jean-Luc Godard, "A objetividade jornalística é a seguinte: um minuto para Hitler, um minuto para os judeus”. Apesar do tom humorístico, a tirinha da personagem Mafalda aponta para o mesmo fato: o dever jornalístico de sempre contar os dois lados da história.
Ao analisarmos a cobertura atual dos fatos no Brasil, podemos perceber diversas vezes a falta de ética da mídia em geral ao muitas vezes noticiar apenas uma opinião sobre o mesmo acontecimento.
Uma garota de 9 anos foi estuprada por seu padrasto. Sua mãe e seus médicos foram excomungados ao realizarem o aborto na menina. Os jornais, em sua grande maioria, apenas contaram o fato e entrevistaram o padre responsável e a instituição Igreja Católica.
O jornal "Folha de S. Paulo" publicou uma reportagem que responsabilizava a Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, por ter planejado, durante a Ditadura Militar, o seqüestro de Delfim Neto, além de ilustrar a publicação com uma suposta ficha criminal dela. Por ser uma grande figura de importância política, Dilma teve seu direito de resposta negado, escrevendo uma carta à Folha com o pedido que a mesma fosse publicada. O mesmo documento só foi publicado no blog do jornalista Luís Nassif, que não trabalha no periódico.
É lamentável que os órgãos de comunicação noticiem apenas o fato que lhes é favorável, seja pela opinião do veículo ou da lucratividade obtida com vender o lado mais “interessante” aos olhos do público, caracterizando um sensacionalismo hipócrita e barato. Os jornalistas devem reassumir seu papel de transmissores da notícia, dando igual destaque e espaço aos diferentes posicionamentos, retomando assim a ética profissional.
Julia Boarini

Garapa e o direito à subjetividade

Estive pensando sobre o documentário Garapa, de José Padilha. Vi uma crítica a respeito do filme, que questionava se o modo como Padilha construiu a película é ético. Tenho pensado, por fim, sobre o que é um documentário: um documento, um registro jornalístico, como sugere o nome, ou uma obra cinematográfica; arte.
O que me chamou a atenção nessa crítica, que já nem lembro onde li, é que o autor sequer comentava os aspectos fílmicos, por assim dizer, de Garapa. Para ele, passaram despercebidos, por exemplo, o formato estético que Padilha evidenciou ao optar por filmar em preto-e-branco.
O tal do crítico parecia, pelo seu texto, tocado, talvez chocado, com o que viu na tela do cinema. De fato, não é algo simples de se assistir: a intimidade da fome e da miséria. Intrigou-me, e acredito que o tenha intrigado também, exatamente o fato de estarmos vendo isso em um filme. Padilha entrou nas casas das três famílias, autorizado por elas, obviamente, e filmou as mazelas e a privacidade deles. Se, pela tela, confesso ter sido uma experiência pessoal dificílima, não posso imaginar como foi ao vivo, com cores, e todo o resto.
No entanto, não sei se considero antiético o trabalho de Padilha, de filmar as cores verdadeiras de três famílias miseráveis. A proposta do diretor é honrosa, sem dúvidas: uma tentativa de evidenciar o quão dramática é a fome no Brasil, uma denúncia.
Nesse ponto, o documentário é muito jornalístico, no sentido mais utópico, até. Mas, será que em um formato mais tradicional, um jornal ou na TV, essa “matéria” seria considerada um trabalho honesto, belo e extremamente pessoal? Essas características podem ser facilmente atribuídas ao filme, sua qualidade e beleza são incontestáveis. Em outra mídia, talvez, Garapa seria tachado de apelativo, e, nesse caso, a acusação ética é muito mais pesada.
Na posição de diretor, Padilha tem mais liberdade, e parece saber disso. O formato, a estética, a montagem do documento e o ponto de vista (da câmera) são cuidadosamente escolhidos por ele, o autor. Na pessoa de autor e artista, ele não precisaria se preocupar com a ética? No entanto, a crítica de que falei aqui não foi a única a acusá-lo de antiético, desconsiderando as outras qualidades de seu trabalho.
Há no cinema um espaço para a personalidade e subjetividade de um ponto de vista. É o que dizem. Dizem também que o jornalismo é objetivo. Garapa não se estabelece em nenhum dos dois cenários separadamente. Compromete-se com a verdade, mas não renuncia à liberdade de fazer essa denúncia pelos olhos do diretor.
Sob uma ética kantiana, Padilha não violou a liberdade de escolha de seus atores-personagens, nem a sua. Fez de seu trabalho um excelente trabalho, mas teria ele feito das três famílias um meio para conseguir o que queria? Sendo a participação delas livre, acredito que não. Será?
No Jornalismo não deve haver subjetividade, contudo a qualidade jornalística de Garapa é muito superior à produções jornalísticas sobre o mesmo tema. A própria reflexão que tento realizar através desse texto é extremamente subjetiva. O olhar do diretor, e do jornalista, é o olhar pessoal dele, como ser humano. Nenhuma forma de enxergar a realidade é igual à outra. Isso é um grande impasse para o jornalista, que deveria, por excelência, ser objetivo e imparcial. Mas antes disso, o jornalista é um ser humano. Se me pedissem para definir o ser humano, a palavra “subjetivo” figuraria nessa definição, certamente. E o artista parece compreender melhor esse aspecto inerente ao homem do que a mídia, embora muitas vezes seja veiculado por ela.
Padilha deu-se o direito à subjetividade, e a partir dela, fez funcionar seus princípios éticos e estéticos conjuntamente: seu filme é duro, triste, e belo. Há muito da condição humana em um filme assim. Se, para Kant, só é possível pensar a ética de modo universal, a partir do que há de comum em todos os seres humanos, a subjetividade deve ser debatida e defendida.

“Democratização da Informação” e a Ética Jornalística

Em meio a tantas novas tecnologias, um novo jornalismo vem surgindo, e com ele uma decorrência de fatos que exigem reflexões sobre o modo de pensar jornalístico. Os blogs representam em peso essa nova era e o principal argumento a favor deles é a interatividade que eles proporcionam aos cidadãos, remetendo a uma dita “democratização da informação”. Agora as pessoas ( sendo formadas para isso ou não) podem não só opinar nas notícias, como participar delas e criá-las. E ai se pára para pensar, onde fica a ética jornalística, tão fundamental na grade das faculdades de comunicação social? Esse ponto cria nós de duas maneiras: a primeira é de quem são as pessoas que estão escrevendo como bem entendem essas notícias que podem ter repercussão global? E a segunda, que não deixa de ser resultado dessa primeira, é que essa história de “democratização da informação” foi tão aceita que teve seu auge essa última semana com o fim da exigência do diploma de jornalista. E agora? Está escrito e assinado embaixo que todos podem fazer o que bem entender com a informação, sem ser necessário nenhum tipo de técnica e conhecimentos básicos? E a questão que grita em meio a isso tudo é: Onde fica a ética jornalística? Quem vai ter conhecimento dela se não os estudantes de jornalismo? Se devido a isso começar a haver uma baixa na procura de faculdades de jornalismo, quem vai estudar a ética jornalística? Os advogados? Os reais interessados nisso vão fazer o que bem entender e esperar dar alguma coisa errada para procurar um advogado que lhes informe sobre a ética jornalística? Acho que estamos num momento em que as mudanças estão eclodindo cada vez mais e isso está ocorrendo de uma forma dissimulada e inconseqüente. Está na hora de se parar para fazer sérias reflexões. Agora é o momento de exigir mudanças dentro dessas mudanças. É preciso ser calculista, mas com um coração de jornalista para definir os caminhos que a profissão deve tomar daqui pra frente, sempre tendo em vista os princípios éticos. Não se pode deixar que o jornalismo perca o brilho que é intrínseco a ele, de valor indescritível e de influência inegável nas relações e no funcionamento da sociedade. Afinal, o jornalismo está presente em tudo, na economia, na cultura, na política... Não podemos tratá-lo como uma atividade qualquer que pode ser exercida por qualquer um sem o menor preparo. É, sem dúvidas, fundamental que ele mude, acompanhe as novas tecnologias, se desenvolva com a sociedade e possa estar cada vez mais acessível a todos,inclusive visando uma real democratização da informação, porém isso não pode acontecer sem que haja um compromisso com a ética e com os direitos humanos!

Gabriela Costa

O Jornalista como agente social

O jornalismo é uma atividade que contribui para a construção dos rumos da sociedade: ele tem a função de fiscalizar o cumprimento dos poderes públicos e privados e, ainda, tem a força para influenciar nas decisões políticas e econômicas, pessoais e coletivas. É por esse motivo que, muitas vezes, a imprensa e a mídia são denominadas o Quarto Poder. Dessa maneira, pensar, formular e colocar em prática uma ética jornalística é um ponto crucial para quem exerce a profissão.

A ética é tida como “um conjunto de hábitos e ações que visam o bem comum de uma determinada comunidade”. Na Grécia Antiga, a ética possuía a função de racionalizar as práticas humanas com a finalidade de alcançar a felicidade plena e coletiva (eudaimonia).

Comumente, nos deparamos com pessoas afirmando que, em prol do bem comum, a ética jornalística deve ser baseada na imparcialidade e na objetividade. A partir dessa ótica, o jornalista deveria se despir de seus preconceitos para permitir que o leitor seja livre para interpretar a informação como bem entender. Gonzalo Peltzer, no livro Periodismo con Pasión, questiona a possibilidade dessas premissas serem materialmente realizáveis: “Devem as notícias refletir a realidade como um espelho? Não, mas não porque não devam, é que não podem." A afirmação de Peltzer, pode ser explicada a partir de ensinamentos da lingüística. De acordo eles, toda escolha de linguagem, de pontuação ou de sintática implica na utilização da subjetividade, intrínseca ao ser humano. Os preconceitos são, por causa disso, revelados nos meandros de qualquer texto, por mais objetivo e imparcial que ele aparente ser. Dessa maneira, é possível dizer, que a imparcialidade e a objetividade são inalcançáveis. Nesse contexto, surge a necessidade de repensar tais princípios do fazer jornalístico.

Formalmente, a ética emerge no jornalismo por meio de um Código de Ética. Este, em vigor desde 1987, deveria ser, como diria Kant, um imperativo categórico que nortearia toda a atividade jornalística. Porém, além do Código não ser colocado em prática pela maior parte dos meios de comunicação, está fundamentado em premissas discutíveis.

No artigo terceiro do Código insere-se o seguinte imperativo: “A informação divulgada pelos meios de comunicação pública se pautará pela real ocorrência dos fatos e terá por finalidade o interesse social e coletivo.” Contrariando o que ordena o artigo, freqüentemente vemos casos de espetacularização da notícia, casos em que nem todos os sujeitos de uma história foram ouvidos, casos em que a ideologia de uma empresa é colocada acima da necessidade de divulgar a veracidade de um fato de interesse social e coletivo. Perseu Abramo, sobre esse mesmo artigo, critica: “Como imaginar, por exemplo, que o jornalismo possa ser concebido como um serviço social e público, se praticamente toda a atividade de comunicação, no Brasil, é monopolizada pelas empresas privadas?” A questão de Abramo é contundente, a comunicação [e o jornalista] está, de fato, acorrentada a meia dúzia de empresas privadas que controlam os grandes meios de comunicação.

No sistema em que vivemos, no qual tudo é condicionado à lógica do lucro, o jornalista é, nessas empresas, cobrado por audiência e assinaturas. Quem mais perde com isso é a ética e a qualidade. Por lucro, e não pelo bem comum, espetaculariza-se a notícia. Pelo mesmo motivo, os meios de comunicação competem entre si para publicar o fato em primeira mão. A qualidade e a ética são subjugadas pela rapidez, ou pelo nomeado just in time.

Como estudante, vejo que o que hoje é preciso questionar é se, nesse contexto, um jornalismo ético que busca racionalmente o bem comum da sociedade é possível. Se for, é necessário pensar como isso se realizaria e de que maneira o Código de Ética deveria refletir isso. Do contrário, veremos a continuação da existência de um jornalismo fadado a reproduzir padrões sociais muito distantes da eudaimonia.

Fernanda Ortega

Ética e sensacionalismo midiático

“Para entrar na alta sociedade, hoje em dia, é preciso comprazer às pessoas, ou saber diverti-las, ou escandalizá-las; basta isso.” (Oscar Wilde)

O escritor irlandês, famoso pelo romance O retrato de Dorian Gray, põe em pauta um assunto que atualmente gera muitas discussões. A questão de escandalizar e expor pessoas a situações deprimentes devido ao sensacionalismo midiático.

É de grande interesse fatos que levam veículos de comunicação a fazer um grande estardalhaço e roubar a cena durante dias, com assuntos que causam revoltas na sociedade. O jornalismo investigativo muitas vezes se equivoca ao achar que é a solução dos problemas da sociedade, e é explicitando os fatos que terão resultados positivos. Muito pelo contrário, escancarar e escandalizar acusados sem um resultado final é a maneira mais antiética que um jornalista poderia se comportar.

José Luiz Datena é jornalista e apresentador do programa Brasil Urgente na Band. Datena é fortemente criticado pela maneira como polemiza assuntos cotidianos. Em vídeos disponíveis no youtube.com é possível ver como os entrevistados, muitas vezes, se sentem desacatados diante das câmeras e como o jornalista tenta induzir as repostas, reafirmando e questionando diversas vezes a mesma dúvida. O apresentador tem um papel social importante de denúncia e o faz com grande autenticidade, porém explora pautas de interesse comum e as faz grandes shows de notícias.

O jornalismo nasce como um jornalismo de opinião e progride para atender o direito da informação geral (presente no código de ética do jornalista), mas não perde seu caráter opinativo. A ética não se traz somente do berço. E também não está apenas vinculada ao bom senso. É de extrema importância ter parâmetros de comparação para saber que tipo de ética seguir. A profissão de jornalista é baseada, sobretudo, na confiança das pessoas. Cada profissional carrega em seu nome, um histórico de fatos e envolvimentos no cenário profissional.

Sobretudo a ética jornalística envolve o principal mandamento que está contido no seu próprio código: Respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão.