quarta-feira, 24 de junho de 2009

O jornalismo fora da ética

O jornalismo fora da ética

Muitos dos artigos do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros podem ser contestáveis se analisarmos o contéudo dos jornais e revistas que circulam; principalmente os da Grande Mídia. A começar pelo Artigo número 7, III: "O jornalista não pode impedir a manifestação de opiniões divergentes ou o livre debate de idéias". Ora, não é raro, ao abrir um jornal ou ver TV, se deparar com notícias tendenciosas que visam somente beneficiar uma das partes, e para isso, manipula a verdade dos fatos. Para ilustrar isso, é só ver o que o site da revista Veja (www.veja.com) divulgou nos 25 anos do MST. Só pelo título da matéria, pode-se notar a maneira tendenciosa que Veja propõe o Movimento ao seu público: "Os 25 anos de MST: invasões, badernas e desafios à lei". Esse, é um dos milhares de exemplos que vemos diariamente na mídia, tentando desmoralizar algum tipo de opinião ou de movimento contrário ao seu.
Outro artigo diz respeito à responsabilidade profissional do jornalista, artigo nº 11: "O jornalista não deve divulgar informações visando o interesse pessoal ou buscando vantagens econômicas". Mas, diferente do que o artigo sugere, o jornalista, e consequentemente a mídia, visa vantagens econômicas, tratando assim a notícia como uma mercadoria. A informação em sua essência não é uma mercadoria, mas ela passa a ser quando o veículo de comunicação denota-lhe valor seja através do destaque, da frequência, do grau de importância de seus protagonistas, do enfoque etc. A maneira sensacionalista que algumas notícias são tratadas mostra que o interesse é impressionar o público, para assim, vender.
Portanto, é mais do que necessário que os futuros jornalistas saibam dar valor à importante tarefa de ser jornalista, e passem à sociedade a notícia como ela é, sem intenções e interesses. Como estamos lidando com uma forma de atribuição que o produto final remonta possibilidades de leitura do mundo, devemos ter muita responsabilidade tanto no fazer, quanto no observar o que foi feito.

Fernanda Miranda

terça-feira, 23 de junho de 2009

A ética nas coberturas jornalísticas

O artigo 4º do Capitulo II do código de ética ( “o compromisso fundamental do jornalista é com a veracidade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação”) evidencia a carência de ética nas coberturas jornalísticas. Tomemos como exemplo o acidente do Airbus A 330 da Air France, que caiu no oceano Atlântico com 228 pessoas a bordo no dia 31 de maio.
A mídia se precipitou diversas vezes no caso, ao afirmar, por exemplo, que os destroços do Airbus haviam sido encontrados no dia 2 de junho, sem haver a identificação do avião. A pressa para divulgar a informação leva a inúmeros erros éticos. A não apuração dos dados brutos, no caso do Airbus, acabou por descartar o sentimento dos familiares das vítimas, que incapacitados frente à falta de notícias, eram iludidos com falsas informações. Foram levados a crer, primeiramente, que o avião havia simplesmente desaparecido. Depois, quando as vítimas foram finalmente descobertas, suas vidas foram expostas sem medir a consideração pela dor e sofrimento dos familiares.
A mídia, além de faltar com a ética, faz da desgraça um ímã para leitores. Aparecem especialistas de todas as áreas: "terrorismo não foi descartado", "é possível a desintegração do avião por um raio"; e a verdadeira causa ainda não apurada. As histórias emocionantes daqueles que deveriam ter embarcado no vôo mas desistiram no último minuto vêm à tona nos noticiários, a imprensa cai em cima, entrevista, tira fotos, conta a história da vida dos “iluminados”. Frente à espetacularização da imagem, nos questionamos se o jornalista vem agindo pelo seu compromisso para com a veracidade da informação ou pelo Ibope.

O lado publicável da história


"Me empresta uma parte do jornal, papai?"
"Aqui"
"Obrigada"
"Frase do dia: Quanto mais conheço os homens, mais querido é meu cachorro - Diógenes"
"Cachorro!..."
"Que tipo de jornalismo é esse? Falta a opinião do cachorro!"
Segundo o cineasta francês Jean-Luc Godard, "A objetividade jornalística é a seguinte: um minuto para Hitler, um minuto para os judeus”. Apesar do tom humorístico, a tirinha da personagem Mafalda aponta para o mesmo fato: o dever jornalístico de sempre contar os dois lados da história.
Ao analisarmos a cobertura atual dos fatos no Brasil, podemos perceber diversas vezes a falta de ética da mídia em geral ao muitas vezes noticiar apenas uma opinião sobre o mesmo acontecimento.
Uma garota de 9 anos foi estuprada por seu padrasto. Sua mãe e seus médicos foram excomungados ao realizarem o aborto na menina. Os jornais, em sua grande maioria, apenas contaram o fato e entrevistaram o padre responsável e a instituição Igreja Católica.
O jornal "Folha de S. Paulo" publicou uma reportagem que responsabilizava a Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, por ter planejado, durante a Ditadura Militar, o seqüestro de Delfim Neto, além de ilustrar a publicação com uma suposta ficha criminal dela. Por ser uma grande figura de importância política, Dilma teve seu direito de resposta negado, escrevendo uma carta à Folha com o pedido que a mesma fosse publicada. O mesmo documento só foi publicado no blog do jornalista Luís Nassif, que não trabalha no periódico.
É lamentável que os órgãos de comunicação noticiem apenas o fato que lhes é favorável, seja pela opinião do veículo ou da lucratividade obtida com vender o lado mais “interessante” aos olhos do público, caracterizando um sensacionalismo hipócrita e barato. Os jornalistas devem reassumir seu papel de transmissores da notícia, dando igual destaque e espaço aos diferentes posicionamentos, retomando assim a ética profissional.
Julia Boarini

Garapa e o direito à subjetividade

Estive pensando sobre o documentário Garapa, de José Padilha. Vi uma crítica a respeito do filme, que questionava se o modo como Padilha construiu a película é ético. Tenho pensado, por fim, sobre o que é um documentário: um documento, um registro jornalístico, como sugere o nome, ou uma obra cinematográfica; arte.
O que me chamou a atenção nessa crítica, que já nem lembro onde li, é que o autor sequer comentava os aspectos fílmicos, por assim dizer, de Garapa. Para ele, passaram despercebidos, por exemplo, o formato estético que Padilha evidenciou ao optar por filmar em preto-e-branco.
O tal do crítico parecia, pelo seu texto, tocado, talvez chocado, com o que viu na tela do cinema. De fato, não é algo simples de se assistir: a intimidade da fome e da miséria. Intrigou-me, e acredito que o tenha intrigado também, exatamente o fato de estarmos vendo isso em um filme. Padilha entrou nas casas das três famílias, autorizado por elas, obviamente, e filmou as mazelas e a privacidade deles. Se, pela tela, confesso ter sido uma experiência pessoal dificílima, não posso imaginar como foi ao vivo, com cores, e todo o resto.
No entanto, não sei se considero antiético o trabalho de Padilha, de filmar as cores verdadeiras de três famílias miseráveis. A proposta do diretor é honrosa, sem dúvidas: uma tentativa de evidenciar o quão dramática é a fome no Brasil, uma denúncia.
Nesse ponto, o documentário é muito jornalístico, no sentido mais utópico, até. Mas, será que em um formato mais tradicional, um jornal ou na TV, essa “matéria” seria considerada um trabalho honesto, belo e extremamente pessoal? Essas características podem ser facilmente atribuídas ao filme, sua qualidade e beleza são incontestáveis. Em outra mídia, talvez, Garapa seria tachado de apelativo, e, nesse caso, a acusação ética é muito mais pesada.
Na posição de diretor, Padilha tem mais liberdade, e parece saber disso. O formato, a estética, a montagem do documento e o ponto de vista (da câmera) são cuidadosamente escolhidos por ele, o autor. Na pessoa de autor e artista, ele não precisaria se preocupar com a ética? No entanto, a crítica de que falei aqui não foi a única a acusá-lo de antiético, desconsiderando as outras qualidades de seu trabalho.
Há no cinema um espaço para a personalidade e subjetividade de um ponto de vista. É o que dizem. Dizem também que o jornalismo é objetivo. Garapa não se estabelece em nenhum dos dois cenários separadamente. Compromete-se com a verdade, mas não renuncia à liberdade de fazer essa denúncia pelos olhos do diretor.
Sob uma ética kantiana, Padilha não violou a liberdade de escolha de seus atores-personagens, nem a sua. Fez de seu trabalho um excelente trabalho, mas teria ele feito das três famílias um meio para conseguir o que queria? Sendo a participação delas livre, acredito que não. Será?
No Jornalismo não deve haver subjetividade, contudo a qualidade jornalística de Garapa é muito superior à produções jornalísticas sobre o mesmo tema. A própria reflexão que tento realizar através desse texto é extremamente subjetiva. O olhar do diretor, e do jornalista, é o olhar pessoal dele, como ser humano. Nenhuma forma de enxergar a realidade é igual à outra. Isso é um grande impasse para o jornalista, que deveria, por excelência, ser objetivo e imparcial. Mas antes disso, o jornalista é um ser humano. Se me pedissem para definir o ser humano, a palavra “subjetivo” figuraria nessa definição, certamente. E o artista parece compreender melhor esse aspecto inerente ao homem do que a mídia, embora muitas vezes seja veiculado por ela.
Padilha deu-se o direito à subjetividade, e a partir dela, fez funcionar seus princípios éticos e estéticos conjuntamente: seu filme é duro, triste, e belo. Há muito da condição humana em um filme assim. Se, para Kant, só é possível pensar a ética de modo universal, a partir do que há de comum em todos os seres humanos, a subjetividade deve ser debatida e defendida.

“Democratização da Informação” e a Ética Jornalística

Em meio a tantas novas tecnologias, um novo jornalismo vem surgindo, e com ele uma decorrência de fatos que exigem reflexões sobre o modo de pensar jornalístico. Os blogs representam em peso essa nova era e o principal argumento a favor deles é a interatividade que eles proporcionam aos cidadãos, remetendo a uma dita “democratização da informação”. Agora as pessoas ( sendo formadas para isso ou não) podem não só opinar nas notícias, como participar delas e criá-las. E ai se pára para pensar, onde fica a ética jornalística, tão fundamental na grade das faculdades de comunicação social? Esse ponto cria nós de duas maneiras: a primeira é de quem são as pessoas que estão escrevendo como bem entendem essas notícias que podem ter repercussão global? E a segunda, que não deixa de ser resultado dessa primeira, é que essa história de “democratização da informação” foi tão aceita que teve seu auge essa última semana com o fim da exigência do diploma de jornalista. E agora? Está escrito e assinado embaixo que todos podem fazer o que bem entender com a informação, sem ser necessário nenhum tipo de técnica e conhecimentos básicos? E a questão que grita em meio a isso tudo é: Onde fica a ética jornalística? Quem vai ter conhecimento dela se não os estudantes de jornalismo? Se devido a isso começar a haver uma baixa na procura de faculdades de jornalismo, quem vai estudar a ética jornalística? Os advogados? Os reais interessados nisso vão fazer o que bem entender e esperar dar alguma coisa errada para procurar um advogado que lhes informe sobre a ética jornalística? Acho que estamos num momento em que as mudanças estão eclodindo cada vez mais e isso está ocorrendo de uma forma dissimulada e inconseqüente. Está na hora de se parar para fazer sérias reflexões. Agora é o momento de exigir mudanças dentro dessas mudanças. É preciso ser calculista, mas com um coração de jornalista para definir os caminhos que a profissão deve tomar daqui pra frente, sempre tendo em vista os princípios éticos. Não se pode deixar que o jornalismo perca o brilho que é intrínseco a ele, de valor indescritível e de influência inegável nas relações e no funcionamento da sociedade. Afinal, o jornalismo está presente em tudo, na economia, na cultura, na política... Não podemos tratá-lo como uma atividade qualquer que pode ser exercida por qualquer um sem o menor preparo. É, sem dúvidas, fundamental que ele mude, acompanhe as novas tecnologias, se desenvolva com a sociedade e possa estar cada vez mais acessível a todos,inclusive visando uma real democratização da informação, porém isso não pode acontecer sem que haja um compromisso com a ética e com os direitos humanos!

Gabriela Costa

O Jornalista como agente social

O jornalismo é uma atividade que contribui para a construção dos rumos da sociedade: ele tem a função de fiscalizar o cumprimento dos poderes públicos e privados e, ainda, tem a força para influenciar nas decisões políticas e econômicas, pessoais e coletivas. É por esse motivo que, muitas vezes, a imprensa e a mídia são denominadas o Quarto Poder. Dessa maneira, pensar, formular e colocar em prática uma ética jornalística é um ponto crucial para quem exerce a profissão.

A ética é tida como “um conjunto de hábitos e ações que visam o bem comum de uma determinada comunidade”. Na Grécia Antiga, a ética possuía a função de racionalizar as práticas humanas com a finalidade de alcançar a felicidade plena e coletiva (eudaimonia).

Comumente, nos deparamos com pessoas afirmando que, em prol do bem comum, a ética jornalística deve ser baseada na imparcialidade e na objetividade. A partir dessa ótica, o jornalista deveria se despir de seus preconceitos para permitir que o leitor seja livre para interpretar a informação como bem entender. Gonzalo Peltzer, no livro Periodismo con Pasión, questiona a possibilidade dessas premissas serem materialmente realizáveis: “Devem as notícias refletir a realidade como um espelho? Não, mas não porque não devam, é que não podem." A afirmação de Peltzer, pode ser explicada a partir de ensinamentos da lingüística. De acordo eles, toda escolha de linguagem, de pontuação ou de sintática implica na utilização da subjetividade, intrínseca ao ser humano. Os preconceitos são, por causa disso, revelados nos meandros de qualquer texto, por mais objetivo e imparcial que ele aparente ser. Dessa maneira, é possível dizer, que a imparcialidade e a objetividade são inalcançáveis. Nesse contexto, surge a necessidade de repensar tais princípios do fazer jornalístico.

Formalmente, a ética emerge no jornalismo por meio de um Código de Ética. Este, em vigor desde 1987, deveria ser, como diria Kant, um imperativo categórico que nortearia toda a atividade jornalística. Porém, além do Código não ser colocado em prática pela maior parte dos meios de comunicação, está fundamentado em premissas discutíveis.

No artigo terceiro do Código insere-se o seguinte imperativo: “A informação divulgada pelos meios de comunicação pública se pautará pela real ocorrência dos fatos e terá por finalidade o interesse social e coletivo.” Contrariando o que ordena o artigo, freqüentemente vemos casos de espetacularização da notícia, casos em que nem todos os sujeitos de uma história foram ouvidos, casos em que a ideologia de uma empresa é colocada acima da necessidade de divulgar a veracidade de um fato de interesse social e coletivo. Perseu Abramo, sobre esse mesmo artigo, critica: “Como imaginar, por exemplo, que o jornalismo possa ser concebido como um serviço social e público, se praticamente toda a atividade de comunicação, no Brasil, é monopolizada pelas empresas privadas?” A questão de Abramo é contundente, a comunicação [e o jornalista] está, de fato, acorrentada a meia dúzia de empresas privadas que controlam os grandes meios de comunicação.

No sistema em que vivemos, no qual tudo é condicionado à lógica do lucro, o jornalista é, nessas empresas, cobrado por audiência e assinaturas. Quem mais perde com isso é a ética e a qualidade. Por lucro, e não pelo bem comum, espetaculariza-se a notícia. Pelo mesmo motivo, os meios de comunicação competem entre si para publicar o fato em primeira mão. A qualidade e a ética são subjugadas pela rapidez, ou pelo nomeado just in time.

Como estudante, vejo que o que hoje é preciso questionar é se, nesse contexto, um jornalismo ético que busca racionalmente o bem comum da sociedade é possível. Se for, é necessário pensar como isso se realizaria e de que maneira o Código de Ética deveria refletir isso. Do contrário, veremos a continuação da existência de um jornalismo fadado a reproduzir padrões sociais muito distantes da eudaimonia.

Fernanda Ortega

Ética e sensacionalismo midiático

“Para entrar na alta sociedade, hoje em dia, é preciso comprazer às pessoas, ou saber diverti-las, ou escandalizá-las; basta isso.” (Oscar Wilde)

O escritor irlandês, famoso pelo romance O retrato de Dorian Gray, põe em pauta um assunto que atualmente gera muitas discussões. A questão de escandalizar e expor pessoas a situações deprimentes devido ao sensacionalismo midiático.

É de grande interesse fatos que levam veículos de comunicação a fazer um grande estardalhaço e roubar a cena durante dias, com assuntos que causam revoltas na sociedade. O jornalismo investigativo muitas vezes se equivoca ao achar que é a solução dos problemas da sociedade, e é explicitando os fatos que terão resultados positivos. Muito pelo contrário, escancarar e escandalizar acusados sem um resultado final é a maneira mais antiética que um jornalista poderia se comportar.

José Luiz Datena é jornalista e apresentador do programa Brasil Urgente na Band. Datena é fortemente criticado pela maneira como polemiza assuntos cotidianos. Em vídeos disponíveis no youtube.com é possível ver como os entrevistados, muitas vezes, se sentem desacatados diante das câmeras e como o jornalista tenta induzir as repostas, reafirmando e questionando diversas vezes a mesma dúvida. O apresentador tem um papel social importante de denúncia e o faz com grande autenticidade, porém explora pautas de interesse comum e as faz grandes shows de notícias.

O jornalismo nasce como um jornalismo de opinião e progride para atender o direito da informação geral (presente no código de ética do jornalista), mas não perde seu caráter opinativo. A ética não se traz somente do berço. E também não está apenas vinculada ao bom senso. É de extrema importância ter parâmetros de comparação para saber que tipo de ética seguir. A profissão de jornalista é baseada, sobretudo, na confiança das pessoas. Cada profissional carrega em seu nome, um histórico de fatos e envolvimentos no cenário profissional.

Sobretudo a ética jornalística envolve o principal mandamento que está contido no seu próprio código: Respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão.

A importância da ética no jornalismo

Os jornalistas possuem mais do que uma profissão, eles detêm em suas mãos o poder de mudança, de manter a sociedade informada de todos os acontecimentos em geral. Para realizarem seu trabalho de forma com que não prejudiquem os demais, eles necessitam de uma formação exemplar, tendo como base o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.

Partindo dos artigos do novo Código, atualizado no ano de 2007, observamos que é de direito fundamental do cidadão o acesso à informação, sendo de dever constitucional do jornalista informá-lo sem nenhuma restrição. Ou seja, o jornalista deve sempre ser contrário a qualquer tipo de censura ou mesmo de auto-censura.

Fazendo uma ligação com o que Kant afirmava, que "sem liberdade não há ação ética", vemos que a profissão de jornalista deve ser regida de acordo com a liberdade de expressão, sendo a censura uma forma de controle que acaba com o exercício ético do profissional. Como a informação é um direito do cidadão, a prática da censura, bem como a autocensura é um delito contra a sociedade, com o qual o jornalista jamais deve compactuar.

Além disso, o jornalista possui um compromisso fundamental com a verdade, devendo sempre buscá-la a qualquer custo, ouvindo todos os lados envolvidos em uma cobertura jornalística. A apuracão dos fatos deve ser feita minuciosamente, de modo que os jornalistas devem buscar provas que fundamentem as informações que irão publicar.

Todos os jornalistas devem exercer sua profissão baseando-se nos artigos do referido Código, porém, o que vemos não é o que verdadeiramente ocorre. A notícia, hoje em dia, é tratada como uma mercadoria, ou seja, os meios de comunicação estão muito mais preocupados na quantidade de audiência que tal matéria irá dar do que com a realização de um trabalho profissional e ético.

Isso faz com que, algumas vezes, a ética seja passada para segundo plano. O sensacionalismo sobrepõe-se a verdade e constantemente vemos meios de comunicação utilizando-o para obterem cada vez mais ibope.

A busca incessante pela notícia em tempo real também pode ferir os artigos do Código de Ética. A falta de tempo para apurar de forma correta os fatos faz com que nem sempre todos os lados envolvidos na cobertura sejam ouvidos. Como conseqüência, matérias mal escritas, contendo apenas um lado do fato, são publicadas prejudicando os envolvidos.

Como futuros jornalistas, devemos sempre nos basear no Código de Ética, visto que a profissão de jornalista exercida de modo errôneo traz danos a sociedade, podendo até destruir a imagem de qualquer pessoa.

Gabriela Zanardi - 09004772


lembrança ética

O ser humano se sente estranhamente atraído pela morte. Qualquer acidente no meio da rua é motivo para aglomeração de curiosos, e quando uma morte trágica acontece, todos os holofotes se voltam para o caso. É triste ver a maneira com que a vida é tratada. Exemplo disso é o acidente com o Boeing A 330 da Air France, “prato cheio” para a imprensa. Uma pesquisa feita pelo IG perguntou a opinião dos visitantes do site Observatório da Imprensa sobre a cobertura que estava sendo feita sobre o acidente do vôo AF 447, dos 799 votos computados até dia 22 de junho, 74% avaliaram- na como sensacionalista. Lendo as reportagens sobre o acidente vi, em meio às tentativas de explicações de como poderia ter acontecido o acidente, rostos de pessoas felizes, com histórias comoventes, infelizmente, todos os rostos eram de pessoas que estavam a bordo do vôo AF 447. De fato, aquelas histórias mexeram comigo. Fiquei pensando na família daquelas pessoas e naquelas coisas que sempre vem à mente quando nos vemos diante de catástrofes como essas... a fugacidade da vida, a importância de darmos valor a quem amamos. Contudo, o que me deixou mais triste foram as manchetes que li sobre o acidente em alguns blogs, que falavam no “vôo da morte” e revistas e programas da tarde explorando a vida das famílias daqueles que morreram e até a dos mortos, a coisa mais comum foram expressões como: “juntos até o fim”, “uma família inteira a bordo”, “o fim dos sonhos”. Ficar explorando a vida dessas pessoas que já se foram e o sofrimento de suas famílias, além de ser de muito mau gosto e desrespeitoso, se mostra antiético de acordo com o código de ética dos jornalistas:
Art. 11. O jornalista não pode divulgar informações:
II - de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes;
Eugenio Bucci, no dia 5/6/09, publicou no site Observatório da Imprensa uma matéria sobre o acidente. Ele apontou a notícia como a morada final dos mortos no acidente. Segundo ele: “A notícia sobre eles cumpriria uma função não declarada de consolar os que sobrevivem, atônitos. Sem o jornalismo nós talvez não tivéssemos como recobrir com palavras o vazio deixado pelos desaparecidos, e sem essas palavras não teríamos como superar a perda. Nessas ocasiões, as notícias seriam, então, o ritual que nos resta.” Sendo a notícia uma homenagem final àqueles de que não poderão ter uma despedida “real”, o mínimo que se pode fazer é respeitar a vida, as famílias dos mortos, e o código de ética do jornalismo, ao menos uma vez, e não fazer da morte mais um instrumento do capitalismo para alcançar o lucro.

Ética para o “jornalismo cidadão”?

A ética profissional pode ser entendida como um conjunto de regras e procedimentos que conduzem as atividades ligadas ao exercício de determinada profissão.
O agrupamento das normas de conduta é denominado código de ética, cuja função é ser um instrumento que busca o comportamento adequado e a realização dos princípios referentes à profissão. É de máxima importância que seu conteúdo seja refletido nas atitudes das pessoas que estão sob tal tutela.
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros explicita que o jornalista tem a função de garantir o acesso do cidadão à informação precisa e correta e deve respeitar a Declaração Universal dos Direitos Humanos. No entanto, manipulação de notícias, auto censura, concessões, privilégios e desrespeito aos direitos humanos são fatos facilmente identificados no jornalismo mundial, que muitas vezes assume posturas parciais e ignora a conduta ética e responsável da profissão.
Porém, será que o Código de Ética está preparado para lidar com novos desafios que surgem em relação ao fazer jornalístico? Como fica a questão das novas tecnologias e do “jornalismo cidadão”?
É evidente que tais fatores contribuem para um jornalismo mais participativo e abrangente, além de serem uma pequena brecha no monopólio informativo dos órgãos tradicionais de imprensa. Mas será que eles se encontram a parte do código de ética dos jornalistas ou devem ser incorporados?
Mesmo que não possamos comparar o “jornalismo cidadão” ao jornalismo em si, pois o primeiro não se utiliza dos critérios profissionais e é apenas dado complementar à análise jornalística, ele é, sem dúvida, um canal de informação e como tal deve fornecê-la de maneira confiável, exata e relevante. Nesse ponto entram as coincidências com o fazer jornalístico e sua conduta ética.
Na Era da informação abundante, é uma tarefa difícil selecionar o que é relevante e aprofundar os temas.O "jornalismo cidadão" surge justamente da aliança entre tecnologia e vontade de participação e geração de conteúdos, e mesmo que atue de formas distintas e com finalidades diferentes do jornalismo tradicional, também é responsável por formar opiniões e fornecer informação, além de democratizar a participação da sociedade no relato dos acontecimentos.
Nesse sentido, a ética de conduta para a atividade informativa não deve servir somente para os jornalistas profissionais, e sim para todos que divulgam informação e se utilizam dos novos meios para propagar a notícia, contribuindo com um jornalismo descentralizado e tecnológico.



A Ética nas Atitudes

Há diversos livros tentando tratar a situação da Ética no jornalismo. No entanto, dificilmente veremos a questão dá ética ser seriamente discutida e ser posta em prática - principalmente considerando os grandes meios de comunicação/informação – veremos diversos desvios e, por várias vezes, uma dúvida poderá pairar a respeito de o que é agir eticamente e o que é não agir eticamente.
Usando o que está acontecendo no Irã, como exemplo, observa-se a prática jornalística seja pelos profissionais da área ou pelas mãos da população, em geral, participante dos protestos. Estamos sendo informados do ocorrido naquele país, vemos a acusação de corrupção e sabotagem das eleições, vemos a manifestação e a violência da polícia para com esta. Vemos também a dor de um pai perdendo sua filha com a cabeça estourada e ensangüentada e as cenas sendo filmadas sem nenhuma menção de ajuda a esse homem em desespero, prestes a perder a filha. Teria o cinegrafista agido corretamente?
Rio de Janeiro, favela da Rocinha, filma-se sem permissão alguma a agonia de uma mãe negra e pobre chorando o fuzilamento de seu filho (que ia para a escola) por oficiais do BOPE, filho esse quem ela depositava esperança de uma vida melhor, da qual ela não teve, e amor, muito amor pelo que suas lágrimas demonstram. O jornalista friamente filma demonstrando a problemática da violência na Cidade Maravilhosa, tornando a morte do garoto apenas mais um dado, mais uma estatística para o Jornal Nacional ou para o programa do Datena.
A vida parece não ser mais importante nesse sentido, é mais interessante a morte virar audiência (200 mortos, 355 mortos, 230 mortos... Falam das barbáries como se falam de quantos bois se abateu para fazer carne). Não seria uma questão ética tratar disso também? Reabrir discussões que não permitam o “vale-tudo” no jornalismo? Estabelecer critérios para impedir uma ética que valha para si e não para o outro? Que jornalista gostaria de ver a mãe sendo filmada depois de falecer no hospital? São questões importantes para pensarmos se demonstramos o compromisso do jornalista e a conduta ética que deve ser tomada para não cometer devaneios e manter o respeito com todos. São questões que a categoria deve discutir e repensar os maus exemplos que já possui.

A fábula no jornalismo brasileiro

“Vou tentar a vida como músico em Bremen. Venha comigo. Eu tocarei flauta e você poderá tocar tambor”. O convite do burro feito ao cão marca o início da mudança na vida dos protagonistas de Os Músicos de Bremen, fábula dos irmãos Grimm. Completo com a adesão do gato e do galo, o grupo, que na obra alegoriza a camada medieval oprimida, abandona seus donos – a classe aristocrata – e segue rumo à Bremen, no norte da Alemanha. Semelhante espírito de libertação se faz necessário tanto nos bastidores obscenos do jornalismo brasileiro, como também, e principalmente, na mentalidade dos espectadores da notícia.
A mudança na classe jornalística parece ser um obstáculo difícil de ser derrubado, embora não impossível. A descrença é explicada pelo conservadorismo da grande mídia, que, na prática, é quem realmente forma a opinião pública. As principais emissoras de televisão e a imprensa escrita popular continuam veiculando informações baseadas em seus interesses político-ideológicos e permanecerão agindo dessa maneira. Por isso, por incrível que possa parecer, é mais convincente acreditar em uma alteração no olhar do alvo da notícia, o espectador, assim como na fábula alemã quem se mobilizou foram os animais e não seus donos.
É essencial adquirir a noção de que a informação liberta, mas também oprime, dependendo do modo como é utilizada. À medida que ela se preocupa em noticiar a realidade, desprovida de sensacionalismos e com uma cobertura próxima da parcialidade, é possível agregar conhecimento e clareza sobre temas diversos. Entretanto, o tratamento do telespectador como robô, refém dos enlatados veiculados pela maioria dos telejornais brasileiros, é exemplo da opressão jornalística. É possível estabelecer, nesse momento, um diálogo com o filósofo Kant. As práticas sensacionalistas, tendenciosas e as meias-verdades ditas pelo jornalismo contrariam a noção do imperativo categórico, na medida em que negam princípios universais, bem como os ideais éticos coletivos.
O ideal seria a formação de um movimento simultâneo, tanto do jornalismo quanto do espectador. O primeiro, por meio das novas gerações de jornalistas, que precisam agir com lucidez e seguir o meio-termo proposto pela virtude aristotélica. Assim, devem ser perspicazes e audaciosas, mas honestas com a realidade. E o segundo, com a aquisição da liberdade e do discernimento e com a capacidade de uma interpretação própria dos fatos. O importante é avançar em vez de lamentar. Assim como fizeram os músicos de Bremen, cuja viagem se tornou o único fio condutor de suas vidas.


Lucas Martinez

Tempos modernos

É ingenuidade acreditar que o jornalismo atual é regido por um código deontológico ou por uma ética universal. Há muito tempo, o meio da comunicação deixou de ser rodeado pelo indispensável comprometimento com a informação para dar lugar ao perigoso 'bom senso'. Tal moderação na regulação abriu espaço para a já famosa imprensa marrom, que trouxe, consigo, um novo modelo de jornalismo, descarregado da missão social e mais interessado em produzir entretenimento.
O meio jornalístico é marcado, hoje, pela constante ganância pela venda da notícia. A evolução tecnológica proporcionou ao mercado da informação uma rede jornalística muito mais ágil, capaz de transmitir informações com extrema facilidade. Esse fator também contribuiu para que, cada vez mais, um código de ética fosse esquecido, uma vez que parece compulsório e mais importante se adequar ao meio. O resultado de todo esse processo é o que vemos hoje: boatos tornaram-se notícia. Não existe mais a apuração dos dados brutos. Assim, cada vez mais é possível encontrar fraudes jornalísticas e plágios sendo publicados.
Outra vertente da ausência da ética no meio jornalístico é o sensacionalismo, muito presente hoje em dia. A transformação do jornalismo num modo de entretenimento deturpa completamente a essência da profissão, abrindo espaço para a dramatização na notícia, criando verdadeiros seriados sobre determinados acontecimentos.
O saldo é angustiante para o bom jornalismo: parar para pensar no que é, ou não, ético parece não caber mais em nossa sociedade. Todo o sistema moderno funcional esquematizado até então, não tem, em sua essência, lugar para um código deontológico.

O notícia como ela não é.

Segundo o Código de Ética do Jornalismo, em seu Art. 6°, o jornalista deve respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão. Logo me vem à mente o caso Isabella Nardoni. O caso, de fato, chocou o país, chamando atenção de todos os brasileiros. Porém, o que se seguiu durante e após o caso foi um jornalismo que mais se assemelhava a um show. Na disputa por audiência jornalistas se aglomeravam em frente à casa da mãe da menina em busca da frase ou da foto que mais transparecesse a dor de quem tinha acabado de perder a filha. Em nenhum momento jornalistas pensaram em seu código de ética e respeitaram a privacidade da família da menina.
Este é apenas um dos casos, onde o Código de Ética foi sumariamente desrespeitado. Cada vez mais cresce o número de jornalistas que não disponibilizam a notícia como meio de informação, visando tornar a população consciente dos fatos, mas como um produto, que é colocado a venda em busca de audiência e reconhecimento. A profissão de jornalista já não é mais vista como um meio de ajudar, ou quem sabe, até transformar a sociedade (aqui não falo da utopia de mudar o mundo, mas de alguma maneira melhorá-lo, e para dizer isto me inspiro na jornalista Verônica Guérin), mas sim como uma profissão que traz status e poder. O jornalista hoje, para ser bom, não precisa se manter ao lado das minorias, denunciando abusos, defendendo os direitos do cidadão, como está em seu próprio Código, mas à frente de um grande jornal, mostrando a notícia tal qual ela não é.

Sensacionalismo e ética

O Brasil está marcado por fatos como corrupção, subornos, lavagem de dinheiro público, nepotismo entre outros que mostram a falta de ética que permeia, não só as instâncias de poder, mas também toda população e conseqüentemente o jornalismo.
O jornalismo televisivo padece nas mãos de redes que distorcem e sensacionalizam as notícias, é normal encontrar a qualquer hora um programa de televisão que explore os fatos para obter ibope e acabam por comercializar informações que inúmeras vezes são distorcidas. Com a mesma autonomia que o sistema televisivo pode escolher o que divulgar ele também é completamente responsável pelas suas conseqüências. A principal função do jornalista descrita no código de ética: “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação” foi esquecida pelos que trabalham pelo bem público.
A imprensa em publicações que revelam o seu intuito de defender a posição de um grupo da sociedade é visto em todos os grandes jornais do país. Um fato que repercutiu foi um episódio no qual o jornal Folha de S. Paulo minimizou a ditadura militar brasileira caracterizando-a como “ditabranda” e desrespeitando seus próprios colegas de profissão que sofreram perseguição, torturados e alguns mortos. Contrariando, mais uma vez o código de ética da profissão que deixa claro na seguinte frase que o jornalista deve: “defender a soberania nacional em seus aspectos políticos, econômicos, social e cultual”; e em seguida “Prestar solidariedade aos colegas que sofrerem perseguição ou agressão em conseqüência de sua atividade profissional”.
Contudo existem ainda veículos que acreditam, de fato, que o jornalismo serve ao bem público e é ferramenta para ajudar a construir um país realmente democrático. Tendo em vista a atual situação dos jornalistas que estão no Irã que lutam pela liberdade de imprensa e pela integridade da profissão e informação, buscando novas formas de noticiar os fatos.
O resgate da ética, não só do jornalismo, mas de todos profissionais e da população precisa ser feito imediatamente, pois a nossa sociedade está sendo almejada por ações inconseqüentes e que destroem a imagem do país. Para agir aticamente não é necessário ter um código, mas discernimento para distinguir ações que visam o sumo bem das ações que causam o mal.

Novos tempos e o velho intervencionismo

Diante da crise económica de 1929, com a superprodução sem escoamento que afundava os americanos e os EUA, que só vinham crescendo sob um ideal de liberalismo que não aceitava nenhum tipo de intervenção do Estado, se torna urgente a tomada de medidas drásticas de mudanças, antes que ocorresse o colapso total que rondava os Estados Unidos da América. 


Dessa forma, no início da década de 30 entram em cena os pensamentos radicais do economista americano John Maynard Keynes, analisando o que se passava com este mercado que excedeu sua produção e quebrou, pois não havia mercado consumidor capaz de comprar tudo o que era produzido, Keynes analisa minuciosamente essa economia e esse mercado. Encontra três tipos de vazamentos de capital de consumo, através das poupanças, importações e os impostos, tais formas desviam um dinheiro que seria capaz de movimentar a economia nacional de forma muito mais significativa. Então, Keynes sugere compensações para estas três formas: as importações seriam substituídas por exportações. Impostos seriam utilizados para financiar bens e serviços, assim, as despesas governamentais compensariam o recolhimento fiscal no fluxo das despesas. E por fim, investimentos com financiamento nos mesmos bancos em que depositavam suas poupanças, para assim os investimentos compensarem os vazamentos do dinheiro represado nas poupanças.


Se essas três medidas funcionarem os gastos ao fim corresponderão ao valor da produção e tudo o que for produzido poderá ser vendido. No entanto, o economista realizou uma associação matemática, de que a medida em que se eleva o nível de renda mais é poupado, ou seja, a parcela da população mais rica poupa mais e a mais pobre menos. Assim os investimentos teriam de crescer em nivel mais acelerado que as rendas, para sobreporem e absorverem as poupanças. Somente dessa maneira, os investimentos poderiam absorver as poupanças e as empresas conseguiriam escoar toda a sua produção. Assim como Marx já havia constatado em suas analises anteriores, Keynes constatou que uma economia capitalista não consegue ter um fluxo de investimentos constantes.  E é para manter os níveis de investimento superiores ao de poupança que Keynes surge com uma medida intervencionista. O Estado aparece como o responsável por apropriar-se do excesso de dinheiro poupado e usá-lo em investimentos de cunho social. O Governo então regularia a economia no eixo e garantiria o pleno emprego. 


A economia kenesiana é até os dias de hoje mal vista pelos liberais, pois representa o fim da "liberdade" total do estado, e hoje, qualquer tentativa de se salvar o mercado a partir de medidas que venham de cima para baixo é vista como ameaça protecionista e possivelmente comunista, tamanho o medo e a complexidade da cultura norte-americana anti-comunista. 


A última quebra da economia norte-americana, datada de setembro de 2007, repete as mesmas causas e efeitos da quebra de 1929. A superprodução mais uma vez assolou o epicentro do sistema capitalista e vem devastando esta economia que segue seus fluxos cíclicos. A única diferença que há entre as duas rupturas do mercado, é que agora o que há não é um excedente de bens materiais mas sim de capital financeiro, fruto das intermináveis linhas de crédito espalhadas pelo mundo. 


O capital especulativo nas últimas décadas criou abismos em relação à economia real. Nos dias atuais, a soma dele supera o PIB mundial. Ou seja, montantes de dinheiro irreal circulam em possíveis investimentos e ações e superam o real capital de uso circulatório. Atingimos um ponto em que o mercado financeiro expandiu a tal ponto que não há Estado que controle suas economias nacional. 


Medidas intervencionistas como as de Keynes estão fora do alcance de qualquer Estado de hoje. No entanto, é improvável que ao deixar o estado seguir por si só como vem seguindo, as coisas se encaixem naturalmente e o fluxo volte a seguir até a próxima crise de superprodução sem que haja uma guerra para que este capital irreal escoe e diminua. Nem tanto ao céu, nem tanto a terra, os novos tempos apontam para uma retomada de controle do Estado seguido de uma espécie de liberdade já conquistada do próprio capital, no entanto, a possibilidade de uma guerra para que se retome as rédeas e volte-se a realidade da produção real, infelizmente, não está tão distante assim. 


POR HELENA WOLFENSON


Ético "versus" correto

Um dos desafios mais complexos que o jornalista encontra em sua vida acadêmica e profissional é saber optar por aquilo que é ético. Nós, como seres humanos e futuros profissionais, estaremos em formação e transformação para o resto de nossas vidas; em meio a este caminho, que é “inacabado” por natureza, iremos nos deparar com inúmeras bifurcações que exigirão sabedoria e agilidade: escolher entre o correto ou o ético. Por mais estranho que seja, nem sempre os dois conceitos caminham de mãos dadas e, para surpresa de muitos, é possível ser ético e não ser correto e vice-versa. Tanto jornalistas experientes quanto os que ainda estão em potencial, devem sempre optar pelo caminho da ética, ainda que o correto se apresente de forma mais consistente em nossos pensamentos.
Essa dificuldade se deve ao fato de sermos habituados desde pequenos a colocar em prática valores transmitidos principalmente através de nossos pais, que podem muitas vezes negligenciar o princípio ético (aos olhos de Kant, por exemplo, tal ato só é ético se for feito com liberdade. Portanto, quando nos obrigavam a pedir desculpas, o livre arbítrio era deixado pra trás, dando lugar ao apropriado, descuidando de um dos princípios da ética kantiana). Entretanto, a partir do momento em que escolhemos ser jornalistas, independentemente dos motivos, assumimos um “termo de responsabilidade” para com a sociedade. Todo o jornalista que se preze, deve trazer à público a verdade mais plena e relevante. Para que isso se torne possível, às vezes será necessário “romper” com os valores com os quais fomos habituados a viver desde crianças; neste caso, deixaremos de lado um bem para praticar um bem maior, que seria estreitar os laços entre a sociedade e realidade universal.

O ignorado Código de Ética do Jornalista

Enquanto lia pela primeira vez o Código de Ética do Jornalista Brasileiro me peguei rindo. As idéias ali contidas me pareceram extremamente óbvias e, a meu ver, já deveriam estar embutidas à moral de cada indivíduo que exerce, ou pretende exercer, a profissão de jornalista. Em uma nova leitura, desta vez muito mais atenciosa, tornei a rir. Desta vez o riso era sarcástico, um tanto quanto desgostoso. Percebi que por mais óbvios que pareçam os artigos do Código, muitos deles certamente não foram assimilados pelo jornalismo atual.
Comecemos pelo começo: “Art. 1º O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem como base o direito fundamental do cidadão à informação, que abrange direito de informar, de ser informado e de ter acesso à informação.”. O primeiro artigo do Código dá a este um início eloqüente, assim como já apresenta os primeiros sinais do não seguimento deste por parte do jornalismo nacional. Mesmo com uma crescente expansão dos veículos de comunicação, são poucos os “cidadãos” (e a mídia parece escolher quem na sociedade merece receber este “título”) que podem optar por seu veículo de informação favorito. Muitos ainda não têm acesso à informação ou, se tem, este se limita a um único meio ou canal, o que impede a comparação de idéias e a formação de uma opinião própria.
Ainda no primeiro capítulo do Código, encontra-se mais uma regra ignorada pelas organizações do jornalismo brasileiro: “Art. 2º, I - a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente da linha política de seus proprietários e/ou diretores ou da natureza econômica de suas empresas;”. Hoje, principalmente em assuntos que envolvem política, vemos que certos meios omitem ou não dão devida importância a fatos que possam afetar a imagem de sua linha política. Por outro lado, exageram e destacam notícias que prejudiquem figuras políticas que não façam parte de sua linha, muitas vezes perseguindo certos indivíduos ou grupos, em uma tentativa de manipular a opinião pública. Além disso, vemos que, com o desejo contínuo de dar a notícia antes que os concorrentes, muitos meios acabam por cometer grandes equívocos. Para piorar, quando percebem seus erros poucos, são poucos os que se retratam e quando o fazem, tal retratação não recebe o mesmo destaque dado à notícia equivocada. Assim infringem-se pelo menos mais quatro passagens do Código de Ética do Jornalista. O ato de respeitar o direito à intimidade, privacidade, honra e imagem dos cidadãos, principalmente tratando-se de “celebridades”, é cotidianamente deixado de lado por alguns que se dizem “repórteres”. São inúmeros os exemplos que comprovam que o trabalho jornalístico brasileiro muitas vezes não se pauta pelo Código de Ética da profissão.
Após longos minutos pensando sobre o Código e sua influência no Jornalismo atual, me deparei com algumas controvérsias. Hoje, de dentro da universidade, vejo como é formada parte dos jornalistas brasileiros. As pessoas e futuros jornalistas com os quais tenho contato me parecem pessoas de bom caráter e com boas intenções. Além disso, a formação que nos é dada deveria tratar de nos empurrar ainda mais na direção de um viver ético. Porém, o jornalismo nacional atual, inserido em um contexto de mercado, parece estar se distanciando cada vez mais de suas responsabilidades sociais, abandonando a ética e partindo em busca de interesses comerciais, econômicos e políticos de uma pequena parcela da população. Isso nos leva a questionar sobre onde estão os estudantes de jornalismo do passado, ou ainda, o que farão os estudantes de jornalismo do presente. O ingresso ao mercado de trabalho trata de corromper todos aqueles que vêem no jornalismo uma possibilidade de mudanças e melhoras sociais? Ou as grandes organizações e veículos de mídia não têm espaço para um agir ético de nossos jornalistas? Independente de quais sejam os motivos que levem o jornalismo atual a ignorar questionamentos éticos, cada jornalista tem o direito de não ir contra suas convicções e valores, podendo assim manter uma postura ética em sua profissão. “Art. 13. A cláusula de consciência é um direito do jornalista, podendo o profissional se recusar a executar quaisquer tarefas em desacordo com os princípios deste Código de Ética ou que agridam as suas convicções.” Pelo menos é o que diz o Código. Mais risos...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O tom do jornalismo mal feito

“Imprensa marrom é a forma como podem ser chamados órgãos de imprensa considerados publicamente como sensacionalistas e que busquem alta audiência e vendagem através da divulgação exagerada de fatos e acontecimentos” – definição extraida da wikipédia.

O conceito de imprensa marrom é algo velho na sociedade, mas ainda não foi totalmente superado. De tempos em tempos as grandes empresas de comunicação (muitas delas se dizem jornalísticas) nos dão uma verdadeira aula de como o jornalismo exercido de forma irresponsável pode ser, e na maioria das vezes realmente é, prejudicial para a sociedade.
Exemplificam essa conduta: o caso do sequestro da menina Eloá, de 15 anos, onde a imprensa deu vóz e visibilidade a um jovem psicológicamente instável e que fazia duas adolescentes refens. O sequestro acabou com Eloá morta e a amiga ferida. A pergunta principal que se extraí desse caso é: se a atuação dos reporteres tivesse sido diferente,e se os jornais não tivessem tratado o caso de forma sensacionalista, o desfecho do caso poderia ter sido diferente?
Outra questão que pode ser colocada, ainda tratando da história desse sequestro. Os jornalistas que se instalaram nos arredores do cativeiro, levando o olhar da sociedade para aquele local, não fizeram que o caso demorasse mais para ser resolvido? E dessa forma afetaram não só a vida da família dos envolvidos diretamente, mas a todos que moravam e trabalhavam na região?
Exemplifica, também, a postura de busca pela audiência/lucro por parte da imprensa, a cobertura dada à história do assassinato de Isabela Nardoni. Nesse caso, os meios de comunicação além de explorar a história da família em que o pai matou a própria filha, expuzeram tanto mãe da vítima quanto algozes à sociedade ainda sem saber quem realmente eram os culpados.
O artigo 6° do capítulo II do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros diz: “VIII – respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão” e “XI – defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, dos adolescentes, das mulheres, dos idosos, dos negros e das minorias”. Esses dois itens são ignorados quando se pratica o jornalismo marrom, ao menos da forma como ocorreu nos casos citados. No primeiro caso, menores de idade em situação de risco foram expostos em rede nacional, no segundo o drama de uma família foi explorado e estampado em todos os jornais, a imprensa deu o veredicto antes da justiça.
É esse o tipo de jornalismo que ainda não foi superado, e que além de lamentável, afeta a vida de pessoas de forma desnecessária e prejudicial.

A vida em mãos.

É certo que existe uma conduta ética esperada para quase todo tipo de profissional bem como para os jornalistas, mas antes de existir uma ética profissional não deveria haver uma ética do indivíduo? No mínimo, a incorporação de um código de ética à legislação assim como a adoção de uma disciplina chamada Ética Jornalística ao currículo de estudantes de jornalismo são fatos que nos fazem indagar se isso está certo.
Antes de pensarmos numa ética profissional é preciso haver uma discussão mais profunda da conduta do ser humano. Acredito que a ética está (ou deveria estar) presente em todas as ações humanas, desde as mais particulares. O homem virtuoso é aquele do meio-termo de Aristóteles, que pondera cada pequeno ato. E mesmo um pequeno ato pode mudar a vida de alguém.
Esse poder sobre a vida de outrem é temerário e faz parte do ofício de jornalista. Não são poucos os que procuram a profissão no ímpeto por mudanças, no auge do romantismo de achar que suas palavras transparecerão a verdade e que contribuirão para o bem social. O que, em grande parte não deixa de ser verdade, visto que em muitos momentos da história o papel da imprensa foi decisivo para que mudanças significativas para o bem pudessem ter ocorrido.
Mas assim como qualquer outro profissional, o jornalista está passível de erros e estes acabam se tornando gravíssimos já que os veículos de imprensa atingem um número muito grande de pessoas e são capazes de influenciar uma população quase em sua totalidade com ideologias e valores. E é nesse aspecto que o trabalho do jornalista é quase sempre delicado e perigoso.
E não é apenas o trabalho de jornalistas políticos, econômicos ou daqueles que tratam de casos polêmicos que é marcado por distorções: o jabá é, infelizmente, uma realidade do jornalismo cultural.
Quem não se lembra do caso da Escola Base, de 1994, em que vários veículos midiáticos publicaram informações falsas envolvendo um casal de educadores? Segundo a imprensa, os pedagogos eram acusados de cometer pedofilia com seus alunos. Eles foram brutalmente humilhados e ofendidos pela comunidade e mesmo anos depois de revelada a verdade eles nunca mais puderam levar uma vida tranqüila.
Erros acontecem, mas nem sempre são reversíveis. Ou quem sabe não são somente erros e sim má conduta? A consciência deve estar a serviço da vida e esta não pode ficar subordinada a equívocos ou má conduta. É essa a lição que muitas pessoas, não apenas jornalistas, deveriam tirar de acontecimentos como esse.

Notícia-mercadoria

Não causa mais surpresa ou espanto em qualquer telespectador dos jornais da Globo, e eventualmente de outros canais, a abordagem completamente insensível dos repórteres dos principais noticiários. Seja em casos de perda de residência, de morte na família, de acidentes, já virou comum a publicação de reportagens em que a vítima é obrigada a responder perguntas óbvias que ferem seu direito de sofrer reservadamente. Seria ético este tipo de abordagem, mesmo sendo feita através da obviedade, ou o respeito ao que o entrevistado está passando deveria falar mais alto no momento da produção do telejornal?

Todo mundo sabe que notícia hoje em dia virou um tipo de mercadoria, que passou a ser produzida e comercializada por todos os meios de comunicação. É fato que, de acordo com o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, a sociedade tem o direito de receber informações completamente verídicas, mas a rede televisiva claramente dá uma maquiada na verdade para deixá-la mais atraente. Um bom exemplo disso é o conhecido caso da Isabella Nardoni, menina que supostamente foi jogada da janela pelo seu próprio pai e pela madrasta. Desde o início da cobertura jornalística do caso, a maior emissora do Brasil, a rede Globo, fez questão de noticiar qualquer novidade do ocorrido sem se importar com a vida perdida, com o sofrimento da família, mas sim com o caso, incitando o julgamento do telespectador a todo o momento. Ficou muito bem indicada a posição da emissora como a favor de Ana Carolina Cunha de Oliveira, mãe da menina.

O ápice da “manipulação” do público aconteceu no programa “Fantástico” exibido no dia das mães do ano passado, 11/05/2008, em que, um mês após a morte de sua filha, Ana Carolina concedeu sua primeira entrevista sobre o ocorrido à Patrícia Poeta, âncora do jornal. Só pelo fato de ter ido ao ar exatamente neste dia, a emissora já conseguiu fazer com que a entrevista causasse maior impacto em quem estava assistindo. Além disso, as dezenas de chamadas feitas durante o programa inteiro prenderam ainda mais o público que já estava extremamente interessado em ver o sofrimento alheio, sentimento este que cada vez mais tem chamado a atenção das pessoas atualmente. Não só a jornalista teve grande parte na demonstração da enorme dor que uma mãe que perdeu sua filha sentia ao fazer perguntas como “Que boas lembranças você guarda dela?”, como toda a produção de imagem montou um esquema de cortes de câmera e ângulos de filmagem para dar ênfase a tal sentimento. Os zooms no rosto de Ana Carolina sempre que uma lágrima caia em seu rosto, o foco na camiseta com o nome Isabella, tudo parece que foi minimamente planejado para atrair o público.

Com isso, a moça de apenas 24 anos deixou de ser um fim, um ser dotado de razão, capaz de tomar suas decisões livremente e passou a ser um meio, um mero instrumento para atrair mais ibope para um programa televisivo que, de um modo geral, vem perdendo a audiência que tinha. Tal atitude da emissora faz com que a divulgação da entrevista, de acordo com Kant, seja antiética e desrespeitosa. Está certo que o próprio “Fantástico” seguiu o Código de Ética ao mostrar a entrevista sem censuras, com todos os fatos verídicos e ainda evidenciando os dois lados envolvidos, tanto o da mãe, quanto o do pai e da madrasta. Porém, a falta de tato e a exploração das emoções de Ana Carolina não podem ser consideradas como atitudes éticas, uma vez que não se deve expor ninguém deste modo e que o direito à privacidade deve ser respeitado sempre. A entrevistada concedeu a palavra, mas é necessário levar em conta que toda a sociedade que não tinha participação no ocorrido e nem a mínima noção do sofrimento de Ana Carolina estava julgando-a como fria e pressionando-a por não ter satisfeito o ideal que a mídia criou e não ter se submetido a chorar em frente das câmeras.

Rafaella Finci