segunda-feira, 22 de junho de 2009

O jornalismo a (des)serviço do público

Nesses primeiros seis meses de jornalismo, toda a imagem idealizada da profissão se foi, mas em seu lugar veio o verdadeiro papel de um bom jornalista: uma figura de utilidade pública. Como saldo, hoje é evidente que mais do que o vínculo empregatício que o profissional tem com o veículo de comunicação no qual trabalha, ele tem um compromisso muito maior com a sociedade; por isso, os jornalistas devem saber de sua importância como informantes imparciais dos cidadãos, ter uma noção do jornalismo como um serviço público.
Mas, ironicamente, o que mais vemos são exemplos de um jornalismo parcial e tendencioso, como não deveria ser. Mesmo estando em uma quantidade muito maior, com mais problemas e urgência, as vozes da periferia são abafadas por uma minoria barulhenta, que se auto-intitula a “classe pensante do Brasil”. Basta olharmos para as ruas sem o "filtro burguês" que a grande mídia nos dá e veremos quantos negros são assassinados nos guetos diariamente pela polícia, muitos deles inocentes, sem qualquer passagem em uma delegacia. Mas isso não se torna notícia de jornal. Não só no Brasil, mas em todo o mundo. Os jovens de ascendência africana e árabe que vivem esquecidos nos subúrbios parisienses, mas são lembrados nos telejornais quando se revoltam, ilustram o monopólio burguês da mídia.
Maria Aparecida é moradora suburbana da Grande São Paulo e condenada pela tentativa de furtar um xampu e um condicionador, que juntos somavam R$ 24,00. Foi presa, torturada e perdeu a visão do olho direito no presídio, mas ainda está em liberdade provisória pelo seu crime, que aconteceu em 2004. No entanto, em março deste ano, o que vimos nos meios de comunicação era a divulgação do movimento “Free Eliana Tranchesi”, dona da loja Daslu e condenada a 94 anos de prisão por dever aos cofres públicos uma bagatela de, aproximadamente, 1 bilhão de reais.
“Já aderi ao movimento. Acho a Eliana um exemplo de coragem a ser seguido! Suas lojas são incríveis, adoro fazer compras lá. Nem se comenta a violência, rapidez, pressa e "eficiência" da polícia em prender Eliana” são comentários que encontramos até hoje em fóruns da web. Claro. Eliana teve a oportunidade de ser entrevistada, Maria, não. Eliana é rica e Maria, pobre e sulamericana. Tudo funciona como uma fórmula matemática, exata, sem meio termo. Numa imprensa que deixa seus valores éticos atropelarem os valores morais – até mesmo do jornalista que faz a notícia – categoricamente, o jargão para os amigos, tudo; para os outros, a lei fala mais alto do que qualquer valor humano, calando as vozes de quem mais grita.

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